Descrição: Retrato de D. Francisco de Moura Corte Real, 3º Marquês de Castelo Rodrigo, de corpo voltado a ¾ para esquerda e cabeça em posição frontal. Em primeiro plano, a figura do Marquês em pose estática com a mão direita sobre a cintura, segurando um bastão de comando e a esquerda sobre a mesa. Apresenta-se vestido com armadura sobreposta por uma faixa vermelha brocada cruzada sobre o peito, destacando-se sob a faixa uma insígnia da Ordem de Cristo. No canto inferior direito, uma mesa coberta por tecido brocado em tons dourados, onde está colocado o elmo com pluma da armadura. Em plano de fundo, vê-se do lado direito uma paisagem esbatida. Inscrição no canto superior esquerdo: “D. Fran.co Moura/3º Marq. De Castelo/Rodrigo” e na extremidade superior direita o brasão com as armas da família do marquês.
Origem/Historial: Bélgica, Flandres. D. Francisco de Moura Corte Real, 3.º marquês de Castelo Rodrigo (Madrid, 1621-1675), filho de D. Manuel de Moura, 2.º marquês de Castelo Rodrigo, e de D. Leonor de Melo, neto de D. Cristóvão de Moura, foi embaixador de Espanha em Viena, ocupando também os cargos de vice-rei da Sardenha e governador dos Países Baixos espanhóis entre 1664-1668. De regresso a Madrid, ocupou sucessivamente a presidência dos Conselhos das Ordens e da Flandres.
Em 1647 adquiriu "La Florida", um terreno nos arredores de Madrid e aí mandou construir a sua casa de campo, sendo ainda gentil-homem da câmara de Filipe IV, (FRANCO, 2000).
É nesta residência que o 3.º marquês de Castelo Rodrigo viria a falecer a 23 de novembro de 1675; viúvo de D. Catarina de Moncada, com quem se havia casado em 1639 e que faleceu em Barcelona em 1651 O marquês deixou por herdeiras as suas duas filhas: D. Leonor, casada com D. Aniello de Gúzman Y Caraffa, conde de Lumiares; e D. Joana, princesa de São Gregório por matrimónio com D. Gilberto Pio de Saboia, conhecido como o Príncipe Pio.
Após a morte de D. Francisco de Moura realizou-se o inventário e taxação de todos os seus bens. Dentre estes, assume particular interesse a sua coleção de obras de arte que se encontrava na casa de campo dos marqueses de Castelo Rodrigo, e na qual se incluíam 576 pinturas, que analisando os altos valores a que as obras foram taxadas, contaria certamente com representações de destacados artistas das escolas italiana, flamenga, espanhola e portuguesa.
O inventário dos bens do marquês teve início a 25 de novembro de 1675, e a 4 de fevereiro de 1676, o pintor Francisco Ricci, pintor de câmara de Filipe IV e Carlos II, encarregou-se de avaliar a extraordinária coleção que agrupava temáticas tão diversas como "bodegones, floreros, paisajes, batallas, alegorias, escenas de género y religiosas, retratos, etc (...) Muy abundantes eran los retratos de la colección pictórica de Don Francisco de Moura, entre ellos muchos de él mismo y de su familia (...)" (MOYA, 1996, p. 306).
A propriedade de "La Florida" em si foi herdada por D. Leonor de Moura, que ao morrer sem descendência a lega a sua irmã D. Joana, passando a ser conhecida pela designação atribuída ao genro de D. Francisco "Pincipe Pio". Em 1792, a casa e seus terrenos são adquiridos por Carlos IV, convertendo-se no denominado "Sìtio Real de La Florida", do qual hoje nada resta (FRANCO, 2000).
Entre a morte do 3.º marquês e a venda da propriedade a Carlos IV, talvez quando D. Joana herda a propriedade da irmã, as obras de arte aí existentes, ou algumas delas, terão ido para a "Villa di Mombello" (Cernusco Merate, Lombardía-Itália), palácio da família Saboia, como o comprova o facto desta pintura de D. Francisco de Moura, ter sido fotografada e surgir no livro "La elección de Fernando IV, Rey de Romanos. Correspondencia del III marqués de Castel-Rodrigo, Don Francisco de Moura durante el tiempo de su embajada en Alemania (1648-1656)", escrito por Don Alfonso Falcó y de la Gándara, Príncipe Pío e último marquês de Castelo Rodrigo. Nesta obra, o próprio autor, localiza a pintura na sua biblioteca de "Mombello", à data da sua edição em 1929.
Após o falecimento de D. Alfonso em 1957, e da sua viúva em 1999, Mombello é legada a um seu sobrinho que, não tendo meios para a manter a vendeu, com todo o seu recheio artístico (incluindo um referido retrato do 3.º marquês de Castelo Rodrigo atribuído à oficina de Velazquez), a um empresário italiano Giorgio Corbelli. Em 2001, o Estado italiano, após grande polémica, autorizou a venda de todo o espólio existente em Mombello, o que decorreu durante o mês de maio desse ano (informação cedida pelo investigador espanhol Luis Tercero).
Existem diversas gravuras de D. Francisco de Moura (FRANCO, 2000. p. 44), e destas destaca-se, pela profunda semelhança com este retrato, uma pertencente às coleções da Österreichischen Nationalbibliothek (Aústria) [ver objeto associado] com a indicação "Franc. Du Chastel pinxit" (autor da pintura) e "Richard Collin sculpebat 1665". Estas duas informações coligidas dão-nos a indicação do autor da pintura e da data em que terá sido realizada, cerca de 1664, coincidindo com a data em que D. Francisco é nomeado Governador dos Países Baixos [ver bibliografia RODRIGUES].
Neste retrato de D. Francisco de Moura, onde a personagem surge já com o título de 3.º marquês de Castelo Rodrigo (posterior à data do falecimento do seu pai em 1652), o retratado é representado de armadura, segurando um bastão de comando, o que indicia a sua nomeação como governador dos Países Baixos espanhóis, que viviam nesta época o seu maior conflito.
A indicação que surge no verso da tela ""6 Exa(?)mo. [...]/Principe Pio/ "III Marques de Castel/Rodrigo"/An. Lienzo" alude provavelmente ao local da sua proveniência, ou seja à casa de campo do marquês "La Florida".
No Castelo de Beloeil, (Beloeil, província de Hainaut, Bélgica) encontra-se um retrato semelhante, datado de 1661, com a indicação do retratado ser Claude Lamoral de Ligne, terceiro Príncipe de Ligne, nobre, militar e diplomata belga ao serviço de Filipe IV e Carlos II da Espanha. Curiosamente o 3.º príncipe de Ligne, esteve juntamente com D. Francisco de Moura na Flandres, o 1.º como capitão general da cavalaria, entre 1649-1669.
Incorporação: Aquisição Governo Regional da Madeira / 2000
Bibliografia
"Bienal de Antiguidades". Lisboa: Manuel Castilho, 2000
FRANCO, Anísio - "Retrato de um Sonhador", in Arte Ibérica, nº 33. Lisboa: s.e., Março 2000
MOYA, José Luis Barrio - "Las coleciones de pintura y escultura de Don Francisco de Moura, tercer marques de Castel Rodrigo (1675)". In Boletim de la Real Academia de Bellas Artes de San Fernando. N. 82. Madrid: 1.º semestre de 1996
RODRIGUES, Ana Kol - "Retrato de D. Francisco de Moura 3.º marquês de Castelo Rodrigo", in Boletim MQC, nº 10. Funchal: Museu Quinta das Cruzes, 2014
RODRIGUES, Ana Kol - "Retrato de Dr. Francisco de Moura Corte Real", in Boletim do MQC, nº 10. Funchal: Museu QUinta das Cruzes, 2014
SOUSA, Francisco Clode de - "Retrato de D. Francisco de Moura Corte Real 3.º Marqueês de Castelo Rodrigo". In Obras de Referência dos Museus da Madeira [cat. de exposição].. Funchal: SREC/DRAC, 2008
SOUSA, Francisco Clode de - "Retrato de D. Francisco de Moura Corte Real 3.º Marquês de Castelo Rodrigo". In Obras de Referência dos Museus da Madeira [cat. de exposição].. Lisboa: IMC/DRAC, 2009
WEILLER, Raymond - Le Portrait dans l'Histoire du Pays de Luxembourg. vol. II. Luxembourg: Éditions Imprimerie Saint-Paul S.A., 1983
Exposições
Obras de Referência dos Museus da Madeira. 500 anos de História de um Arquipélago
Lisboa. Palácio Nacional da Ajuda. Galeria de Pintura do Rei D. Luís I.
21/11/2009 a 6/4/2010
Exposição Física
Obras de Referência dos Museus da Madeira
Funchal. Museu de Arte Sacra do Funchal
1/4/2008 a 31/12/2008
Exposição Física
"Obra Convidada". FRANÇOIS DUCHATEL, "Retrato de D. Francisco de Moura Corte-Real, 3º Marquês de Castelo Rodrigo"