Ficha de Inventário

Museu Quinta das Cruzes

  • Museu: Museu Quinta das Cruzes
  • Categoria: Edifícios e estruturas construídas culturais e recreativos
  • Datação: Século 15/15
  • Descrição: Edifício histórico, representativo da arquitetura civil do Barroco insular, composto por uma casa senhorial de planta composta, retangular irregular, com volumes articulados e coberturas diferenciadas, de quatro, três e duas águas, com beirais duplos e triplos de telha de meia-cana portuguesa. Fachada principal: dois pisos com quatro janelas, com molduras de cantaria cinzenta da região sobrepostas; janelas do primeiro piso de lintel com decoração manuelina e as do segundo janelas de sacada com lintel de balanço, lambrequins e persianas fasquiadas de madeira pintadas a verde escuro. Corpo central: sobrelevado com mais um andar, correspondente ao gosto das «torres de ver o mar e/ou avista navios» com janela semelhante às do primeiro andar e gárgula de canhão em cantaria na divisão das águas para Este. Corpo articulado a O. com arcaria de cantaria vermelha do Cabo Girão, que protege as três portas de acesso ao piso térreo e sobre o qual corre um terraço fechado por alpendre em madeira com largas janelas de guilhotina e escadaria de acesso ao andar nobre, por O. Com este corpo articula-se ainda um outro, central e perpendicular, com dois pisos. No piso térreo abrem-se dois largos arcos de cantaria que ligam a entrada geral da Quinta ao jardim, parque e capela, voltados para Oeste. A fachada Oeste apresenta-se com três corpos, dois reconhecíveis pela diferença de pé direito e pelo algeroz de «folha de flandres» na divisão das águas e o central recuado, com janelas sobrepostas semelhantes às da fachada principal. Fachadas a Norte: janelas com molduras de cantaria simples a articularem-se para Este por um pequeno pátio, para onde dá a torre com dois corpos articulados de janelas gradeadas e ainda para o complexo (espaço anexo), correspondente à antiga garagem e segunda «casinha de prazeres». O muro da Quinta (pintado de vermelho com barra branca), voltado para a rua das Cruzes, é interrompido, na parte central, pela fachada principal da Capela (com portal de volta perfeita encimado por lintel de balanço e janelão, e terminando em empena com cruz); por um portão de acesso (de serviços) ao jardim (com portal de arco de volta perfeita em cantaria vermelha do Cabo Girão e portadas almofadadas de madeira pintadas a verde escuro) e ainda na extremidade Sul/Oeste pela «casinha de prazeres» (antiga residência do guarda do Museu e restaurada em 2004/2005, com dois pisos de cobertura de quatro águas, beiral duplo e pequena porta de acesso à Rua São João de Deus. O muro que percorre o perímetro total da Quinta isolando-a dos restantes edifícios circundantes, abrange uma parte significativa voltada para a Calçada do Pico, onde é novamente interrompido pela entrada principal da Quinta, com um grande portão articulado de barras de ferro lanceoladas, e no canto Norte/Este incorporando a antiga segunda «casinha de prazeres», com dois corpos, articulados por lanços de escadas, com coberturas de quatro águas e uma porta de acesso direto à rua, de madeira pintada de verde (IPA.00004134)
  • Origem/Historial: Oficialmente aberto ao público a 28 de Maio de 1953 sob a denominação de Casa-Museu “César Gomes”¸ o Museu Quinta das Cruzes foi constituído com base na doação do ourives César Filipe Gomes, ao que se seguiu o legado do colecionador João Wetzler e diversas aquisições que formam, no seu conjunto, um percurso através da evolução das Artes Decorativas, bem como da história da Madeira. A história do Museu Quinta das Cruzes teve início a 19 de Dezembro de 1946, data da assinatura da Escritura de Doação feita à Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal de toda a coleção de objetos de arte e antiguidades pertencentes a César Filipe Gomes. Neste documento estabelece-se que a referida doação de objetos de arte e antiguidades (mobiliário, cerâmica, ourivesaria, joalharia, miniaturas, gravuras, pinturas, escultura, tapetes, colchas, etc.), é feita com o fim expresso de fazer instalar na Quinta das Cruzes um museu de Arte. No cumprimento da referida Escritura, a Junta Geral inicia um longo processo de negociações com os então proprietários da Quinta das Cruzes (família Miguéis), que culminaria na expropriação da referida Quinta, tendo a Junta Geral e os proprietários chegado a um acordo quanto à quantia a indemnizar, conforme quitação assinada a 21 de Abril de 1948. A 29 de Dezembro de 1949 é inaugurada na Quinta das Cruzes a sua primeira Exposição, curiosamente anterior à sua inauguração oficial como Museu. Esta mostra, organizada pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, sob o título Exposição de Gravuras Antigas da Madeira, foi incluída no programa de festas de Fim de Ano e compreendia 156 estampas e 80 gravuras avulsas, dos séculos XVIII e XIX, abarcando uma ampla perspetiva da vida e costumes regionais, organizados numa reconstituição da época, ao longo de seis salas. A esta iniciativa não é alheia a vinda à Madeira do Dr. Manuel Cayola Zagallo, Conservador do Palácio Nacional da Ajuda e Adjunto do então Museu das Janelas Verdes, que aqui veio proceder ao estudo da instalação do novo Museu da Quinta das Cruzes, apesar da intervenção geral com vista à abertura do Museu apenas ter tido início cerca de 1950. O eco desta Exposição na vida cultural madeirense foi bastante difundido e aplaudido pela imprensa local, surgindo diversos artigos sobre o notável evento, tomado como uma iniciativa exemplar no domínio da cultura regional. Por sua vez, o público correspondeu às melhores expectativas tendo-se contabilizado cerca de 5 000 visitantes, numa procura nunca antes verificada na Madeira, tendo sido mesmo necessário adiar o encerramento da Exposição. Finalmente, a 28 de Maio de 1953, é oficialmente aberta ao público a Casa-Museu “César Gomes”. Faziam parte da Comissão organizadora deste Museu, notáveis membros da vida cultural madeirense donde se destacam o Dr. José Leite Monteiro e o Dr. Frederico de Freitas, acompanhados pelo Dr. Ângelo Silva, Padre Eduardo Pereira, Prof. Basto Machado e João Maria Henriques. Como consequência do movimento cultural iniciado, é inaugurada a 6 de Setembro de 1953, uma mostra do pintor Francisco Maya, que expõe nas salas do recém-criado Museu, algumas das suas obras. Mas, a par de César Filipe Gomes, um outro “mecenas” contribuiu, de forma significativa, para o espólio do Museu Quinta das Cruzes. João Wetzler, nascido em Viena de Áustria, chegou à Ilha da Madeira cerca de 1939 refugiado da II Guerra Mundial. Este comerciante estabeleceu-se no mercado antiquário com alguns dos objetos que comprou em leilões, alguns dos quais adquiridos em Inglaterra, onde no pós Guerra encontrou condições favoráveis de mercado, sendo esta a proveniência de grande número de peças da sua coleção. Em sinal de reconhecimento à Região, João Wetzler (nome que adotou após a sua naturalização) legou à Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal a sua coleção de pratas. Mas tal como o primeiro doador desta Instituição, e segundo condições expressas nas suas determinações testamentárias, colocou como condição que a sua Coleção fosse integrada no Museu Quinta das Cruzes. Em 1966, este legado é incorporado, oficialmente, no espólio do Museu. São estas duas coleções particulares, a de César Filipe Gomes e a de João Wetzler, que constituem a base da criação do Museu Quinta das Cruzes. Por consequência, são também elas que irão determinar a vertente de Casa, que até hoje preside ao discurso museológico e museográfico deste espaço. A estas coleções juntam-se também diversas doações, bem como diversas aquisições, que globalmente enriqueceram um espólio, que se apresenta como um dos mais importantes da Região. Foram ainda implantados nos jardins algumas pedras de armas e lápides comemorativas, além de outros elementos arquitetónicos, como por exemplo, as Janelas Manuelinas que compõem o Parque Arqueológico instalado em 1956. Até ao final da década de 70, o Museu permaneceu como a única instituição museológica de âmbito governamental, facto pelo qual foi depositário de muitas peças doadas e adquiridas que não se enquadravam no âmbito da sua vocação primordial. Foram os casos dos núcleos de Arte Contemporânea e de Etnografia que faziam parte do espólio do Museu Quinta das Cruzes e que, posteriormente, integraram o espólio de dois novos museus: o Museu de Arte Contemporânea (Funchal), atual MUDAS | Museu de Arte Contemporânea da Madeira (Calheta) e o Museu Etnográfico da Madeira (Ribeira Brava), respetivamente. O Museu Quinta das Cruzes integra desde 2002 a Rede Portuguesa de Museus. De acordo com os requisitos de credenciação dos Museus que integram a Rede Portuguesa de Museus, em conformidade com a Lei n.º 47/2004, de 19 de Agosto, que aprova a Lei Quadro dos Museu Portugueses, o Museu Quinta das Cruzes possui os seguintes regulamentos: Regulamento Interno; Plano de Conservação Preventiva; Política de incorporações; Regulamento para a execução, reprodução, empréstimo e aquisição de fotografias e captação de imagens de bens culturais.

Bibliografia

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  • HENRIQUES, João Maria - "Alguns Móveis 'Estilo Chippendale'do Museu da Quinta das Cruzes", in Das Artes e da História da Madeira, Nº 5. Funchal: 1951
  • PAIS, Teresa; SOUSA, Amândio - Quinta das Cruzes - Museu. Funchal: Governo Regional da Madeira/S.R.T.C./D.R.A.C., s.d.
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  • SOUSA, Amândio de - "Ourivesaria no Museu da Quinta das Cruzes", in Atlantico, Nº 18. Funchal: 1989
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  • SILVA, Pe. Fernando Augusto da. "Moradias de Zarco". V Centenário do Descobrimento da Madeira. dez. 1922
  • Das Artes e da História da Madeira nº 34, 1964
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  • SOUSA, João José de. "A Freguesia de São Pedro do Funchal". Diário de Notícias. 2 fevereiro, 2 de março e 6 e abril. 1986
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  • CARITA, Rui. "As capelas da freguesia de São Pedro no século XVIII". Diário de Notícias. Funchal. 5 jan. 1992
  • "Casa da Quinta das Cruzes / Museu da Quinta das Cruzes" IPA.00004134. Sistema de Informação para o Património Arquitetónico. [www.monumentos.pt]

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