A presente
Obra Convidada é o
"Retrato de João José Sá Machado, futuro 1.º Conde de Carvalhal" pintado pelo pintor italiano, natural de Veneza, Domenico Pellegrini (1759-1840), assinado e datado (1800), pertença do Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa). Esta parceria com o Museu Nacional de Arte Antiga vem, também, na sequência da Obra Convidada exposta neste museu, em Lisboa,
"O Retrato de D. Francisco de Moura Corte Real", obra do século XVII do pintor de origem flamenga, François Duchatel, e que pertence ao Museu Quinta das Cruzes.
O
"Retrato de João José Sá Machado, futuro 1º. Conde de Carvalhal" estará em exposição no
Museu Quinta das Cruzes entre 3 de junho e 30 de setembro de 2017.
O projeto
Obra Convidada integra-se num conjunto de iniciativas promovidas pela Direção de Serviços de Museus e Património Cultural da Direção Regional da Cultura da Madeira, visando implementar dinâmicas de divulgação das coleções dos museus em diálogo com coleções privadas, quer regionais, ou nacionais, permitindo diálogos e estudos entre as obras de coleções privadas e o espólio dos museus da Região Autónoma da Madeira, numa relação concertada de laços institucionais.
Obra Convidada - Folha de sala (PT)
Obra Convidada - Folha de sala (EN)
Retrato de João José Sá Machado
futuro 1.º Conde de Carvalhal
Domenico Pellegrini (1759-1840) foi um pintor italiano (Veneza) com formação próxima de Domenico Corvi (1721-1803). Foi discípulo de Lodovico Gallina (1752-1787) e a sua obra evidencia influências da retratística de Alessandro Longhi (1733-1813), de George Romney (1734-1802) e de Joshua Reynolds (1723-1792), e, ainda, da linguagem classicizante de Anton Raphael Mengs (1728-1779). Contou com a proteção do escultor António Canova (1733-1813) e do gravador Francesco Bartolozzi (1725-1815), que recomendou a sua vinda para Portugal (1803 e 1810). Viajou pela Europa, residindo e trabalhando em Veneza, Roma, Nápoles, Paris, Londres e Lisboa.
João José Xavier do Carvalhal Esmeraldo Vasconcelos de Atouguia Bettencourt Sá Machado, 1º. conde de Carvalhal, cujo título recebeu a 5 de setembro de 1835, após regresso do exílio em Londres, foi uma personalidade proeminente da sociedade madeirense, relevando-se como empreendedor, filantropo e defensor dos ideais liberais. Nasceu no Funchal a 7 de março de 1778 e faleceu a 11 de novembro de 1837, sendo sepultado na capela da Quinta do Palheiro Ferreiro, residência construída em 1801, onde recebera e homenageara Maria Leopoldina da Áustria, a 12 de dezembro de 1817, aquando da sua viagem a caminho do Brasil para contrair matrimónio com D. Pedro I. Os restos mortais do 1º. conde de Carvalhal foram trasladados, quarenta anos depois, por ordem do 2º. conde de Carvalhal, para jazigo no antigo cemitério das Angústias.
Era filho de João do Carvalhal Esmeraldo de Atouguia Albuquerque e Câmara (1733-1790) e de Isabel Maria de Sá Acciaolly da Câmara Leme (1741-c.1820), pertencendo às mais ricas e influentes famílias madeirenses. Possuidor de uma das maiores fortunas de Portugal, com propriedades em território continental e nos Açores, foi senhor e administrador de vários morgados na ilha da Madeira, por herança familiar, destacando-se o do Espírito Santo (Lombada dos Esmeraldos, Ponta do Sol), do Carvalhal (Ponta Delgada), da Água de Mel (Machico), do Paul do Mar (Calheta), das Neves (Funchal).Teve título de Cavaleiro da Casa Real e Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo. Assumiu cargos militares e políticos na ilha da Madeira, sendo coronel do regimento de milícias da Calheta e do Funchal, vereador e presidente da Câmara Municipal do Funchal, e governador civil do distrito do Funchal.
Apesar da sua condição familiar, riqueza e cargos políticos, diz-se que era pessoa simples, que viveu sem fausto e ostentação, deixando um vasto património que o seu herdeiro, o sobrinho-neto António Leandro da Câmara Carvalhal Esmeraldo Atouguia Bettencourt de Sá Machado (1831-1888), 2º. conde de Carvalhal, não soube acautelar.
O Retrato de João José Sá Machado, futuro 1º. Conde de Carvalhal é uma pintura a óleo sobre tela, com 90,5 cm de altura por 71 cm de largura, e foi incorporado no Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa) em 1911, por aquisição.
O Retrato de João José Sá Machado, futuro 1º. Conde de Carvalhal foi pintado, em 1800, por Domenico Pellegrini, como atesta assinatura. É um retrato de corte, como foram outros retratos da aristocracia europeia da autoria deste pintor.
O 1º. conde de Carvalhal foi representado a ¾ à direita, olhando direta e fixamente para o espectador. A mão esquerda muda vagarosamente a página de um livro, enquanto a outra mão repousa na cadeira. O conde traja uma casaca verde-escuro, de veludo, com botões dourados, estando dois abotoados, calças amarelas, colete e camisa de seda branca, e um
plastron branco, também de seda, envolve o seu pescoço.
A figura ocupa o centro da composição, sendo notório a paleta de influência veneziana, como são a intensidade e brilho cromáticos. De rosto jovem, pois contaria apenas vinte e dois anos, olhar sereno, postura aristocrática e nobreza na expressão, foi representado sobre um fundo negro, ainda veiculando matriz penumbrista, à exceção do canto inferior esquerdo onde se observa um clarão de luz amarela que harmoniza com a cor das calças, numa preocupação evidente de equilíbrio visual. O tratamento do fundo escuro ou a sua neutralidade cromática possibilita ao espectador uma leitura centrada no retratado, orientada pela luminosidade (rosto, mão, livro, calças).
Patenteia o rosto um bom e delicado desenho, testemunhando a sua formação junto de oficinas de estética clássica, como é de evidenciar a mestria técnica na modelação de volumes e a desenvoltura de pincel na marcação de luminosidades.
O Retrato de João José Sá Machado, futuro 1º. Conde de Carvalhal integrou as exposições temporárias
Traje Império e a sua época, 1792-1826 (Museu Nacional do Traje, Lisboa, 1992-1994) e
O jogo do retrato (Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 2002-2003).