O Engenheiro Rui Manuel da Silva Vieira (1926-2009) foi uma figura pública de relevo no contexto social e político da Região Autónoma da Madeira, da segunda metade do século XX, tendo-se destacado em diferentes áreas profissionais e atividades técnico-científicas, nomeadamente, enquanto engenheiro agrónomo, especialista e investigador na área da botânica, floricultura e viticultura. Integrou os quadros dos Serviços Agrícolas tutelados pela então Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal e foi o responsável pela criação do Jardim Botânico da Madeira. Por esta via a sua ligação aos jardins e ao Museu Quinta das Cruzes foi efetiva e determinante para a valorização das caraterísticas históricas deste espaço ajardinado e para a salvaguarda das espécies naturais classificadas (plantas endémicas) aqui existentes.
Entre 1971 e 1974 exerceu as funções de presidente da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal e foi nessa qualidade que estabeleceu com esta instituição museológica uma relação de grande proximidade e afetividade, tendo promovido, de forma significativa, o enriquecimento do espólio do Museu Quinta das Cruzes, através de uma política de aquisições de bens patrimoniais de natureza artística e histórica, cerca de 150 espécimes, constituídas por diferentes tipologias de objetos, entre os quais se destacam peças de porcelana chinesa, de mobiliário e sobretudo um conjunto significativo de desenhos, aguarelas e gravuras da Madeira, do século XIX.
No dia dez de fevereiro de 2020 os filhos do Engenheiro Rui Vieira, doaram ao Governo da Região Autónoma da Madeira, um núcleo de medalhas (Memorabilia), comemorativas de efemérides relacionadas com a História e Instituições do Arquipélago da Madeira, constituído por 312 espécimes, pertencente à coleção particular do seu pai, na condição de as mesmas integrarem o espólio do Museu Quinta das Cruzes, a fim de serem conservadas e divulgadas. Esta doação constitui uma iniciativa louvável que valoriza o acervo do Museu e, consequentemente, o património artístico e cultural da Região, testemunhando a memória do Engenheiro Rui Vieira junto desta instituição, à qual sempre esteve ligado e pela qual tinha particular apreço.
Este núcleo é composto por medalhas contemporâneas de série, de cariz comemorativo, de mérito e de tributo. Estão perpetuadas em bronze, prata e em vermeil, maioritariamente, figuras ilustres, elementos do quotidiano e acontecimentos que outrora foram considerados relevantes na sociedade portuguesa, essencialmente madeirense, de índole política, literária, histórico-artística, religiosa, filantrópica, desportiva, etnográfica e cultural. Podemos encontrar nesta coleção representações cunhadas de poetas, dramaturgos, jornalistas, historiadores, navegadores, escultores, benfeitores, fotógrafos, musicólogos, figuras religiosas e outros. Algumas delas estão ligadas ao poder autárquico da Região Autónoma da Madeira, alusivas aos diferentes concelhos; outras retratam o património arquitetónico edificado tais como fortalezas, palácios, museus e igrejas. Existe ainda um núcleo significativo relacionado com a etnografia madeirense, representando o traje tradicional, instrumentos de lavoura da indústria regional, os transportes tradicionais como o carro de cesto, o carro de bois, o palanquim e a rede; as profissões como o leiteiro e a bordadeira, a botânica madeirense e os transportes aéreos, por exemplo, os primeiros aviões da TAP a aterrar na Madeira e no Porto Santo. Podemos encontrar ainda medalhas que registam acontecimentos na Região como congressos, jornadas, encontros, exposições, empresas, clubes e associações regionais, assim como o registo de visitas de figuras ilustres à Madeira e alusivas às comemorações dos dias da Região, do Trabalhador e do 25 de abril.
Estas medalhas foram desenhadas e projetadas por artistas plásticos portugueses de renome, medalhistas e escultores, alguns deles madeirenses. Destacamos Anjos Teixeira, A. Belo Marques, Amândio Sousa, Cabral Antunes, Diniz de Almeida, Eduardo Leitão, Luís Palhão, Luz Correia, Ricardo Jorge Velosa, Manuela Aranha, Maurício Fernandes, Vasco Berardo, entre outros.
Através desta iniciativa, o Museu Quinta das Cruzes presta homenagem à figura ilustre que foi e representa na nossa sociedade expondo parcialmente esta sua coleção que contribui para o conhecimento, estudo e compreensão da História da Madeira, do ponto de vista sociocultural, artístico, metrológico, histórico, iconográfico, geográfico, cronológico assim como da história da arte.