Apresentação
"À semelhança do que acontecia noutras paragens, também na Madeira, por meados do século XIX, alguns artistas residentes e de passagem detiveram-se na representação de costumes e paisagens, sobretudo através do desenho, da aguarela e da gravura, numa extensão do gosto romântico que então ainda informava a época.
Quase sempre ordenados em álbuns, estes sketches, que às vezes nem passavam de fugazes apontamentos de viagem, prefiguravam a “arte final” desses álbuns de gravuras que ao tempo tanto sucesso alcançaram. Passando de mão em mão, de terra em terra, revelando costumes, mostrando trajes, arquitetura do lugar, num processo de divulgação impressa que fazia já antever a descoberta da fotografia como sucedâneo.
A presente Exposição é constituída por desenhos e aguarelas do álbum Sketches by Emily Geneviève Smith adquiridas nos anos 50 do século XX para as coleções do Museu. Nele se integram originais de diversos autores onde é justo destacar o núcleo assinado por Emily Geneviève Smith, um desses exemplos desenvolto da prática do desenho, que se crê já instituída ao nível de certos extratos da sociedade.
E se nem sempre as obras expostas valem como manifestação autónoma de arte, constituem porventura ainda hoje elementos valiosos de estudo e valorização do nosso património, numa perspetiva sempre renovada de olhar a ilha que fomos." [Amândio de Sousa; 1988].
Emily Geneviève Smith aportou no Funchal em outubro de 1841, em busca de melhoras para o avançado estado de tuberculose do seu marido, reverendo Reginald Southwell Smith. Os Smith viveram na Madeira durante dois anos, ao longo dos quais, Emily Smith manteve um fiel registo de acontecimentos nos seus diários que pontualmente ilustrava com desenhos e esboços. Desenhadora e aguarelista dotada, Emily fixou em apontamentos a sua permanência na Ilha: a casa onde a família Smith residiu (Quinta da Nora), as relações sociais estabelecidas com outras famílias inglesas aqui residentes, os acontecimentos vividos, as diversas expedições realizadas, o contacto com as gentes locais, mas acima de tudo, capta nos seus desenhos a Madeira de meados de Oitocentos vista através de um olhar estrangeiro, uma terra de dramáticas paisagens e habitantes pitorescos que ilustram o sentimento romântico que impera nos seus sketches.