Tocadas na época natalícia a caminho das missas do parto e do galo, e por altura das festas e romarias nos meses de verão, é na Tabua, freguesia pertencente ao concelho da Ribeira Brava, e em algumas zonas próximas, que estes instrumentos musicais possuem maior tradição.
Era habitual naquela freguesia juntarem-se grupos de homens, aos Domingos ou à noite, para construírem castanholas com diferentes formas e dimensões, procurando inovar na forma de tocar e nos resultados acústicos obtidos, rivalizando entre si.
Existiram dois grupos de tocadores rivais, que embora constituídos por elementos de diversas localidades, eram conhecidos popularmente por Grupo da Ribeira e Grupo dos Zimbreiros, sendo muitas vezes o adro da igreja palco destes “despiques”.
Na década de 40 do século passado formou-se um grupo, a chamada “Requesta da Tabua”, que atuou em diferentes festividades, fazendo parte do cartaz de animação de alguns eventos, nomeadamente no Arraial de S. Pedro (Ribeira Brava) e na Festa das Vindimas (Funchal).
Esta rivalidade terá incentivado a construção destes instrumentos, e estará provavelmente na origem do aparecimento de uma maior variedade morfológica, na Ribeira Brava e na Ponta do Sol, concelhos onde estes idiofones de percussão direta adquiriram caraterísticas muito peculiares, como é o caso das castanholas de grandes dimensões, as castanholas com formas zoomórficas (galinhas ou cabeças de cão) ou o artefacto único, patente nesta exposição, da autoria de Alfredo Rodrigues Luzirão: o “avião de castanholas”. O seu autor, ainda jovem, juntou-se nos anos 40 ao grupo do seu sítio, tendo criado este original instrumento, um sucesso naquela época.
Nos anos 70, a pedido do escultor António Rodrigues, produziu uma réplica, patente na “1ª Mostra de Instrumentos Musicais Populares” e que foi doada pelo escultor ao Museu Etnográfico da Madeira, enriquecendo o acervo.
O “Grupo de Tocadores de Castanholas da Casa do Povo da Tabua”, criado em 1990, tem como objetivo preservar esta tradição de forma genuína, incentivando os mais novos a dar-lhe continuidade, mantendo a reprodução dos diferentes tipos de toques, transmitidos de geração em geração ( tocar novo, toque dobrado, bailinho e três pancadas), fortalecendo a identidade local.
Arlindo Lourenço, natural da Tabua, é atualmente o único artesão a dedicar-se à construção destes instrumentos musicais, a que acresce a perícia de os saber tocar, mantendo viva a tradição no seio do grupo.
Com a apresentação desta exposição, o Museu Etnográfico da Madeira pretende promover o Património Cultural Imaterial da comunidade da Tabua, a saber: uma tradição ancestral na reprodução dos vários tipos de toques e uma tradição associada aos conhecimentos e a um saber fazer local, que representa a herança cultural de gerações passadas.
Através dos workshops que têm sido organizados pelos Serviços Educativos do museu, promovemos a transmissão do ofício e do “saber fazer”, revelando o conhecimento intrínseco inerente à construção e utilização deste tipo de instrumentos, que se pretende continue a ser transmitido às gerações futuras, preservando e valorizando esta expressão imaterial da cultura.
Textos: Dalila Fernandes e Lídia Góes Ferreira
Fotografia: Florêncio Pereira